Sportmania entrevista prof. nivaldo baldo
Fisioterapeuta conhecido internacionalmente por seu trabalho em reabilitação e fisioterapia esportiva, Nivaldo Baldo é Diretor da Physiosport Rehabilitation Center em Campinas (SP), onde coordena um grupo de vários fisioterapeutas tendo tratado mais de 22.000 pacientes. Foi também fisioterapeuta da delegação brasileira nos XII Jogos Panamericanos em Winnipeg - Canadá em 1999; no World University Games em Kobe – Japão em 1985; nos Jogos Panamericanos em Edmonton – Canadá em 1983 e da Seleção Brasileira de Futebol sub 23 em Toulon – França em 1983.
Para saber mais sobre este, que foi o primeiro profissional brasileiro a levantar a discussão sobre exercícios provocativos em lesões musculares e articulares, leia a entrevista concedida com exclusividade ao SPORTmania.
O senhor chegou a praticar esportes? Fui nadador e jogador de pólo aquático. Como começou seu interesse por esta área de recuperação de atletas?
Vou contar de primeira mão, ninguém sabe disto. Quando eu era criança meu pai tinha um time de futebol tipo destes da várzea em Campinas, chamava-se ‘respaldo’. O pessoal ia, na época de caminhão, eu muito pequeno ia com eles e fui crescendo e vendo como todos sofriam, principalmente, com os problemas de joelhos, e meu pai na época tinha sub luxação por instabilidade, ou seja falta do cruzado anterior e sub luxava o joelho e eu desde pequeno o ajudava a reduzir a sub luxação. Isto foi por muitos anos, e na época nada existia de mais eficiente em termos de bons resultados nestes casos, e quando já formado e experiente tratei de meu pai que acabou fazendo duas próteses: uma de joelho e outra de quadril. Aqui em Campinas ele era conhecido como Toninho Baldo, vulgo Toninho Cavalo. Era zagueiro. Cilinho, Zé Duarte, Castilho e tantos outros do futebol eram desta época e região.
Como é o seu dia a dia? Meu dia começa às 5 da manhã e termina 9 da noite. Sempre fui assim, trabalho e estudo o dia todo, inclusive moro na minha clínica no último andar.
No momento, o senhor está cuidando de muitos atletas? Sempre temos muitos atletas e ex-atletas, mas mantemos muitos pacientes comuns e aqueles e aquelas que precisam de um programa super direcionado, especifico, individualizado.
Dezembro, que é mês de férias (eu não chego e não saio de férias), temos jogadores da Bahia, Paraná, Santa Catarina, Itália, Portugal, etc. Também mantemos pacientes que tiveram acidentes cerebrais traumáticos e ou vasculares que desejam lutar contra as sequelas destas patologias.
Conte-nos algo que o emocionou por ter obtido sucesso num caso que parecia perdido. Todos os pacientes e atletas têm dado provas de emocionante sucesso. Poderia criar uma lista, mas seria melhor eles darem o testemunho de quanto se dedicaram e quanto me ajudaram com as técnicas que fomos adaptando e criando. Se você quiser, eu peço para o pessoal da clínica te escrever, assim ficaria mais a vontade.
E o inverso? Algo que o chateou profundamente? A maior chateação é quando o paciente, a pessoa não quer continuar vivendo e ou tem comportamento confuso e destruidor de si mesmo. Pessoas que pensam que são eternas e que desfazem e agridem seus corpos e suas almas.
Existe uma lesão que seja mais comum? As lesões estão ligadas ao povo, seu tipo de esporte de conduta social e física. No Brasil, nem precisa dizer que o futebol causa a maioria das lesões, principalmente pelo número de praticantes oficiais e extra-oficiais, como também nos praticantes de final de semana. Mas o futebol não é o esporte mais lesivo e ofensivo a saúde. Existem muitos outros, muito mais prejudiciais em suas lesões como no handebol, motociclismo, lutas, esportes radicais, etc.
O senhor acha que um clínico geral deveria acompanhar a delegação das equipes de futebol? Tenho lutado para inserir um departamento de saúde no esporte e principalmente no futebol, não um departamento médico. É fundamental que mantenha-se na equipe e dentro dos campos um especialista em socorros, pode ser clínico, cardiologista, infecto, etc. Mas que tenha excelente base em primeiros socorros. Como também um traumatologista e ou ortopedista juntamente com o fisioterapeuta.
Por que na maioria dos clubes somente um ortopedista está presente nos gramados? Pela idéia que o ortopedista traumatologista é muito mais requisitado durante os jogos, mas na prática é diferente. O departamento de saúde necessita de todos. Do infectologista, do clínico geral, do dentista, da nutricionista, do professor de educação física, do fisioterapeuta, do psicólogo, do psiquiatra e tudo isto não funciona se não tiver um excelente general manager ou secretário de futebol.
Que conselhos o senhor daria para quem está começando, para que tenha uma carreira longa? Para os atletas aconselho sempre saber e discutir os seus problemas com os vários profissionais, nunca elegerem uma cirurgia que não é de urgência, tornando-a de urgência. Deve vasculhar e entender tudo o que vai acontecer com ele e com os procedimentos invasivos cirúrgicos e ou medicamentoso, como também de fisioterapia. A lesão tem que ser evitada e nunca negligenciada. Mas o imposto da atividade física é a lesão, portanto ninguém está totalmente isento de uma lesão esportiva, exceto quando não se é praticante de nenhum esporte. Atleta é atleta profissional, mesmo com muitas dificuldades, no entanto a população precisa entender que esporte não é sinônimo total de saúde, é risco, é mudança, é esforço e quando tudo é cientificamente e fisiologicamente programado e adaptado o atleta passa a manter a boa saúde, no entanto quando inúmeras variações e agressões passam a existir na vida do atleta este tem uma vida esportiva até de fama, mas depois as doenças geralmente aparecem crivando e limitando muitos ex-atletas e principalmente jogadores de futebol. Jogadores que com muitas lesões,muitas cirurgias que na época eram um sucesso hoje padecem de grande perda em suas articulações pelo desgaste e agressão do esporte de alta competitividade.
O senhor já conhecia o SPORTmania? Qual sua opinião sobre o site? Vocês têm que continuar com o site e com esta liberdade ética que apresentam com tantas qualidades e empenho. Parabéns!
Carlos Fernando Rego Monteiro - nasceu no Rio de Janeiro e é Coordenador Geral do SPORTmania. De 1994 para cá escreveu três livros esportivos: dois sobre automobilismo (Almanaque do Automobilismo e Rápidas Palavras) e um sobre basquete (Morada de Gigantes - Histórias de Araraquara e do Basquetebol da Uniara).